sábado, 21 de março de 2009

O frio que virou gripe

Hoje não tem foto nem vídeo. Tem gripe e remédio. Quando se está doente, todo lugar estrangeiro perde o encanto e nossa casa – ou o que quer que se equivalha – se torna o melhor lugar do mundo. O Pantheon, que eu poderia conhecer, ou a Fontana de Trevi, que eu gostaria de rever, não foram páreo para um lugar até então subestimado: a cama de baixo de um dos dois beliches do quarto de quinze metros quadrados do albergue Yellow.

Não que o dia não estivesse lindo. Quando acordei, abri a janela e vi um lindo azul no topo do céu. Mas era uma armadilha. O azul seduzia, mas o frio – já fora da coberta eu percebi – era daqueles de se usar duas meias e inaugurar a ceroula. Foi o que fiz. Tentei ser um bom viajante. Levantei-me, caminhei alguns quarteirões, comi uma conchiglia na boulangerie da estação Termini, fui na direção da Fontana de Trevi, passando pela Praça da República. Mas é lá, nos prédios arqueados que circundam a praça, que o vento faz a curva, com direito a cantar pneu e tudo mais. Entrei com gosto na Melbooks, que eu já tinha sondado no dia anterior. Fiz cara de grande interesse em livros – tudo bem, isso não foi difícil, eu já tenho essa cara mesmo –, mas meu interesse maior era o calorzinho lá de dentro, que deu até para tirar o casaco e o cachecol. Peguei "Pinocchio" e comecei a ler, no original. Até que não foi tão difícil. Li os dois primeiros capítulos, folheei tantos outros livros, comprei o "Pinocchio" e fui ver como estava o clima lá fora.

Para minha decepção, o clima era o mesmo. Como pode um dia ser ao mesmo tempo tão lindo e tão frio, insuportável e repelente? Resolvi atravessar o McDonalds pra ganhar dez metros de calor, e resolvi parar para um cappuccino e para uma ida ao banheiro. De lá, fui aos correios, quase vizinho. Enviar cartões postais foi rápido e fácil, mas fiquei fazendo hora, aproveitando o calor, e só saí de lá ao ser expulso por uma funcionária, que disse que eles fechavam mais cedo aos sábados.

Lá estava eu de novo na rua. Poderia ter voltado logo para o albergue, mas estava corajoso, determinado. Caminhei aproximadamente um quilômetro até o Palazzo delle Esposizione, meu porto seguro no meio de minha querida Via Nazionale. Lá, um cappuccino me rendeu quase uma hora sentado num confortável sofá, lendo o livro sobre Leonardo da Vinci que eu havia comprado anteontem e deixado na mochila para uma emergência. E lá eu senti a gripe me rondando. Peguei o guia de conversação em italiano e localizei as palavras para farmácia, gripe, febre, pastilha, garganta e vitamina.

Já no caminho de volta, parei em um ristorante para comer um risotto alla pescara. Tão típico que tive de retirar arroz de dentro de conchas. Delicioso e trabalhoso. Nada a reclamar, isso me deu mais tempo no clima mais ameno do restaurante.

Na farmácia da estação Termini, comprei o remédio para gripe, febre e coisas correlatas e tomei o rumo do Yellow. Bem a tempo de cagar uma fininha que desceu muito bem, não sei se graças ao contínuo Yakult ou se ao início da gripe. Resolvi tirar um cochilo, mesmo sendo quase cinco da tarde. Coloquei o despertador para as dezoito horas, torcendo para que nenhum companheiro de quarto chegasse e me interrompesse o sono.

Esqueci de contar que, ontem, eu e Marco (o alemão), recebemos dois novos companheiros: Dei-shí (assim se pronuncia), um japonês; e, vocês não vão acreditar, Laerte [nome fictício]), um... brasileiro, mas não apenas um brasileiro, e sim um universitário cearense que está morando temporariamente na Espanha e que veio passar o final de semana aqui em Roma. Ele e um bando de outros cearenses. Ontem conversei em português após dois dias. Mas não vou contar as peripécias de meu companheiro de quarto brasileiro quando ele chegou da balada, de madrugada, pois já me basta uma gripe para o dia de hoje.

Vou dormir cedo porque preciso acordar cedo para deixar o albergue amanhã às dez horas. Espero já estar recuperado da gripe, pois meu trem para Bologna só sairá no meio da tarde e terei que ficar zanzando todo esse tempo por Roma. Não, não tenham pena de mim, o albergue permite que a bagagem fique guardada aqui mesmo eu já tendo feito o check-out. E eu sempre terei algum lugar para fugir do frio da rua e me aquecer. Eu só espero que Bologna, mesmo estando mais ao norte da Itália, esteja mais quente do que aqui. Acho que mereço esse milagre.

6 comentários:

  1. "Como pode um dia ser ao mesmo tempo tão lindo e tão frio, insuportável e repelente?" Não faço nem idéia. Mas aqui é só o que tem. É assim com -20ºC! O maior sol, a gente se anima todo e... frio arretado! Você aí, com temperatura positiva, devia era dar graças a Deus. Ou ao Papa. Ou aos dois. :)

    À bientôt, mon ami! E não esqueça: vitamina C, uma boa pizza e cama!

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  2. Até eu fiquei com frio. rsrsrs. Boa recuperação e boa estadia em Bologna. Por acaso no meio dos cearenses tem um João Luis? É que o filho do Luis Junior está estudando na Espanha e vive viajando com um monte de outros cearenses :o)
    Bjs,
    Tia Monca

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  3. Puxa, Tio Du! Espero que você melhore da gripe para continuar aproveitando ao máximo essa viagem!
    Bjs,
    Carol

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  4. Querido,
    não sei o que me divertiu mais hoje: se este blog ou a crônica ! Sua loucura é deliciosamente sadia ! :)
    Beijos.

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  5. Aproveita e vai assistir um jogo da Roma no Olimpico...

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  6. Porra Dudu, tu inventa esse negócio de Blog da Itália, escreve três dias seguidos, aí diz que tá doente e desaparece... Dá um sinal de vida aí rapaz, a gente aqui fica aperreado sem notícias! Abraços e melhoras, Fábio.

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