sexta-feira, 20 de março de 2009

Filas, filas e... filas

Gente, o que é isso?! Hoje passei mais tempo em filas do que visitando os lugares propriamente ditos. Vi alguns anúncios de grupos guiados que não pegavam filas, mas como ontem, no Coliseu, foi tudo tranquilo, resolvi me aventurar individualmente também no Vaticano. Só que ontem foi feriado não só no Ceará, mas também na cidade do Papa, então quem não pôde entrar ontem, apareceu hoje por lá. Os museus do Vaticano estavam mais lotados que o Castelão num Fortaleza x Ceará de final de campeonato. Por falar em proximidades entre Itália e Ceará, recebi o seguinte e-mail de uma amiga:

Estava num passeio em Roma quando, ao visitar a Catedral de São Pedro, fiquei abismado ao ver uma coluna de mármore com um telefone de ouro em cima. Vendo um jovem padre que passava pelo local, perguntei a razão daquela ostentação. O padre então me disse que aquele telefone estava ligado a uma linha direta com o paraíso e que se eu quisesse fazer uma ligação eu teria de pagar 100 dólares. Fiquei tentado porém declinei da oferta. Continuando a viagem pela Itália encontrei outras igrejas com o mesmo telefone de ouro na coluna de mármore. Em cada uma das ocasiões perguntei a razão da existência e a resposta era sempre a mesma: Linha direta com o paraíso ao custo de 100 dólares a ligação.
Depois da Itália vim para o Brasil e fui direto para o Ceará (de um país para outro país). Ao visitar a nossa gloriosa Catedral de Fortaleza, fiquei surpreso ao ver novamente a mesma cena: uma coluna de mármore com um telefone de ouro. Sob o telefone um cartaz que dizia: LINHA DIRETA COM O PARAÍSO - PREÇO POR LIGAÇÃO = R$ 0,25 (vinte e cinco centavos).
Não me aguentei, e lasquei....
-- Padre, eu disse, viajei por toda a Itália e em todas as catedrais que visitei vi telefones exatamente iguais a este mas o preço da chamada era 100 dólares. Por que aqui é somente R$ 25 centavos?
O Padre sorriu e disse:
-- Meu amigo, você está no Ceará. Aqui a ligação é local.

Não vi a coluna de mármore nem no Vaticano nem na Catedral de Fortaleza, mas a piada é boa e apropriada.

Voltando à fila. Quando chegamos em frente à entrada dos museus (MVSEI VATICANI -- basta clicar sobre a foto para ampliar), me animei porque o frio ia enfim acabar. Porque uma coisa é pegar fila, outra é pegar fila com 10 graus celsius e com vento forte. Mas a fila passou da entrada, foi até a esquina, fez uma espécie de labirinto, deu a volta e só então se aproximou novamente da entrada. Isso tudo com um casal se beijando e se pegando na minha frente. Tortura romana!

Lá dentro, uma verdadeira loucura. Nem dava pra andar nem dava pra ficar parado. O melhor momento do início da visita foi tirar o sapato no restaurante e comer um pedaço de pizza antes de ver as exposições em si. Gostei da Pinacoteca, principalmente de um quadro sobre Adão e Eva no Paraíso. Até aí foi tranquilo. Quando decidi ir no rumo da Capela Sistina, foi um verdadeiro engarrafamento, passando por quinhentas salas antes de olhar pro famoso teto e apreciar as maravilhas de Michelangelo. Minha idéia era fazer uma panorâmica do teto, mas câmeras não eram permitidas na capela. Na verdade, estou cada vez mais convicto de que o melhor lugar para ver quadros não é no museu, mas em livros. O museu é bom apenas para você ter uma idéia das dimensões da obra. Não deu pra ver direito o que Michelangelo pintou com tanto cuidado. Era levantar a cabeça e ser empurrado por alguém. A densidade demográfica na Capela devia ser semelhante àquela de uma câmara de gás dos campos de concentração: todo mundo colado um no outro. E haja pescoço pra ficar olhando pra cima. Na Capela Sistina, devia ter um monte de redes pra gente ficar olhando pra cima com conforto e sem torcicolo.

Vista a Capela, procurei a saída o quanto antes. Gostei da escada em espiral que leva à saída. Muito bonita, labiríntica e perigosa: o que tinha de aviso pra tomar cuidado pra não cair não é brincadeira.

Ainda fiquei fazendo uma horinha na ante-sala antes de sair: voltar para o frio não me pareceu uma boa idéia. Mas lá fui eu. Nos dois dias anteriores, bastaram-me o casaco do Kildare e o cachecol da Alba. Hoje tive de apelas para as luvas do Mateus. E assim fui, todo empacotado para a praça e para a basílica de São Pedro. Adivinhem o que encontrei? Isso mesmo: mais uma filinha de uns trezentos metros, em plena praça aberta e com o vento correndo tão solto quanto os pombos e os meninos que tentavam chutar os pombos.

Quando entrei na basílica, pensei logo: não deveria ser eu a estar aqui, mas minha mãe e minha Vó Izolda. A basílica é imensa, linda e cheia, mas cheia, de obras de arte. Logo após a entrada, à direita está a Pietà, Michelangelo, uma escultura que me comove pelo abandono do Cristo e pelo cuidado de Maria.

Embora o calorzinho dentro da basílica estivesse agradável, eu estava um pouco preocupado com o horário de fechamento do acesso ao domo, à cúpula da basílica. E eu não queria perder isso por nada. Marco, meu companheiro alemão de quarto no albergue, falou que a vista era maravilhosa. Então saí da basílica pra encontrar novamente o frio e a fila, com direito a mais um casalzinho se amassando na minha frente. Aqui se aluga tudo: vespas, bicicletas, fones de ouvido para visitas guiadas... só faltam alugar mulheres em filas frias. Numa hora dessas é que a saudade da namorada aumenta ainda mais.

A subida da cúpula se dá em duas partes. A primeira, de elevator. De lá, há uma vista interna para o altar da basílica, agora já iluminado. Lindo! A segunda fase da subida é a pé mesmo. Apenas 320 degraus. Isso mesmo: trezentos e vinte degraus cada vez menores, e com as paredes se inclinando, já que o domo é arredondando. Já imaginou subir escada meio de lado? Não experimente se não estiver com seus exercícios aeróbicos em dia. Era bom que a vista compensasse... E compensou. Gente, Roma que eu tinha levado tanto tempo percorrendo, caminhando, agora era bem pequenininha. Consegui cavar uma brechinha na murada e, mesmo tremendo de frio com o vento forte (vocês podem ouvi-lo no vídeo), fiz uma panorâmica lá do alto.



Para descer, todos os santos, apóstolos e o próprio papa ajudam. Só então curti a Praça de São Pedro, que é enorme e linda. Num dia menos frio, deve ser uma festa. Incrível a mania de grandeza do povo daqui. Deve ser, relativamente ao país (Vaticano), a maior praça do mundo.

Reabasteci minha garrafinha numa fonte da praça. Se eu passar mal devido à água, passo junto com um monte de italiano. Comprei uns cartões postais, mais pra entrar na loja e me esquentar um pouco, confesso. Depois saí tão rápido quanto pude para a estação de metrô mais próxima: uns infindáveis 500 metros.

Ah, gente, tantos outros detalhezinhos do dia... O novo e barulhento companheiro de quarto, a compra da passagem de trem para Bologna direto numa maquininha automática, minha primeira conchiglia -- de chocolate... mas estou exausto, e tão exausto quanto eu o notebook, que está com bateria baixa.

Grato pelos comentários anteriores. Espero que vocês estejam gostando da viagem. :)

Prometo que amanhã terei um dia mais light. Mais italiano que turístico, espero.

5 comentários:

  1. Oi Junoca,
    Que delicia, viajar com você!
    As fotos estão ótimas!
    Brigadim por compartilhar. Bjs, Tia Monca

    ResponderExcluir
  2. Meu ismão, também pegamos filas enormes e praça cheia, mas tudo valeu a pena. Tenho certeza que irá gostar cada dia mais e mais da sua viagem. Grande beijo. Karina

    ResponderExcluir
  3. Junoca, se mesmo com as baterias descarregadas voce nos presenteia com tantas belezas e descricoes, imagino se nao estivessem. Que continue apreciando tudo, que eu vou junto. rsrs Beijos. Ceíta

    ResponderExcluir
  4. Mas rapaz, tu cisma de cortar o filminho justo quando a gente tava vendo a praça de São Pedro? Sacanagem... E não reclama do frio não, que aqui é pior! :)

    Ah, sim: a viagem tá é boa, e a gente viajando junto. ;)

    ResponderExcluir
  5. A piada do telefone é ótima!

    Mesmo com frio e filas, a viagem vale a pena.

    E bota moral nesse povo aí do albergue, macho!

    ResponderExcluir