quarta-feira, 1 de abril de 2009

Viva Bangladesh!

Num dia, estabeleci minha rotina perfeita em Florença. No outro, a desobedeci. Melhor assim: tenho que me cuidar para não cair em meus tradicionais extremos.

Acordei cinco minutos mais cedo, fui caminhando para a escola, cheguei em cima da hora, e as duas primeiras aulas, de gramática e conversação, foram boas. A turma não é homogênea, então às vezes me sinto um burro; outras vezes, penso que estou indo bem. As professoras, bonitas, são tão simpáticas que quase chegam a ser lindas. Os colegas e as colegas são todos muito gentis. No intervalo, entre uma aula e outra, tratei finalmente de comprar um dicionário de italiano-italiano na livraria vizinha à escola.

Minha intenção, após as aulas, era almoçar rapidamente e voltar para a escola para acessar a internet. Mas me ocorreu que eu poderia me socializar um pouco, então saí pra almoçar com algumas colegas: duas brasileiras, uma boliviana, uma suíça e três japonesas. Depois de rodar um pouco na chuva, escolhemos um restaurante e sentamos na rua, sob um toldo: aqui é muito comum os restaurantes se apropriarem das ruas, sempre com toldos e gradeados, para colocar as mesas. Fomos atendidos por uma garçonete romena que alternava entre uma antipatia insuportável e uma gentileza sorridente. Um caso típico e agudo de bipolaridade ou transtorno obsessivo-compulsivo. O almoço foi muito divertido, com a gente misturando os vários idiomas: português, espanhol, japonês e, claro, italiano.

De volta à escola, já perto das três da tarde, comecei a botar a correspondência eletrônica em dia enquanto esperava por uma pequena apresentação, na própria escola, sobre as atrações culturais de Florença para o mês de Abril. Acabei descobrindo que já estava meio antenado, visto que andara lendo folhetos durante o final de semana. Eu ainda estou sem querer ver muito as coisas. O Duomo, por exemplo. Ainda não tive vontade de entrar na principal atração turística de Florença. Estou vivendo como se sempre fosse ter isso à disposição. Na verdade, hoje até senti um pouquinho de impaciência em relação aos turistas. Vejam só! Mas daqui a pouco será hora de retomar um pouco o espírito de Roma e sair a bater perna.

No caminho de volta pra casa, dei uma passada numa sorveteria que havia sido indicada por uma guia da escola. E como era boa a indicação. O sorvete de lá só perdia, para o meu paladar, para o sorvete de "crema de edoardo" que tomei em Bologna. Uma delícia!

A volta para casa foi sob chuva, de guarda-chuva verde em punho e carregando o peso da mochila e do notebook. A impaciência com o clima foi crescendo, afinal já era pra estarmos na primavera há mais de uma semana. Cheguei em casa irritado com o tempo. Resolvi enfrentá-lo, mostrar que eu também era forte. Saí de casa novamente, dessa vez sem casaco, luva ou guarda-chuva. Levei apenas o cachecol, que tem se mostrado o melhor amigo do homem. E foi assim que um brasileiro, saudoso dos trinta e poucos graus de Brasília, Fortaleza e Teresina (nesse caso, trinta e muitos graus), saiu à rua apenas de camisa enquanto os italianos passavam, para um lado e para o outro, todo encapotados e protegidos por guarda-chuvas.

Mas eu não havia saído a esmo: meu destino era uma lavanderia self-service, uma wash & dry. Para comemorar minhas duas semanas de viagem, eu havia decidido lavar roupa. Nesses quatorze dias, eu havia lavado apenas uma calça, no hotel em Bologna, e confesso que já estava me incomodando o cheiro meio amargo de algumas camisas, embora aqui quasi não se transpire devido ao frio. A máquina automática não dava troco, e resolvi ir a uma pequena lanchonete quase em frente para comer alguma coisa e ter dinheiro trocado. Optei por um pedaço de pizza e uma coca-cola natural, já que não havia nada quente para beber. Foi o primeiro pedaço de pizza não muito bom que comi na Itália, e por isso não recomendo que ninguém coma pizza numa lanchonete paquistanesa. Quanto à coca-cola, que eu não bebia há semanas, nunca me desceu tão mal: era gostosa, mas me deixou com a sensação de ser um balão. Se eu tivesse um palito de dente à mão, juro que teria enfiado na minha barriga só pra ver o papoco. Como não tinha palito, parti para um arroto básico, que funcionou.

Com dinheiro trocado, voltei à lavanderia. Mas confesso que só consegui lavar minha roupa com a ajuda de um homem de Bangladesh. Aliás, um viva à Romênia (pelo primeiro dia) e outro a Bangladesh (por este). Eu só tinha usado esse tipo de serviço uma vez, em Fortaleza. Depois que o homem (sinto muito, mas não gravei o estranho nome dele) me explicou como funcionava, achei tudo muito simples: meia hora de lavagem, meia hora de secagem, e a roupa está como nova. Que maravilha! Agora só me resta imaginar quem será meu próximo salvador na Itália: alguém de Bali ou da Nova Zelândia?

Com roupa nova na mochila, voltei feliz para casa, caminhando no frio e na chuva miúda. Cheguei tão cansado que até pensei na possibilidade de não tomar banho. Mas isso implicava em ter de tomar banho na manhã seguinte: melhor agora então. Banho tomado, li um pouco e dormi.

Hoje acordei na mesma hora e, como de costume, conversei um pouco com Bigi no café da manhã. É como se eu fizesse um teste oral a cada dia. Minha conversa com Bigi é um bom indicador de meus progressos no idioma. E parece que estou melhorando, pois hoje foi tudo mais tranquilo, não fiz aquela cara desesperada de quem quer dizer alguma coisa e não sabe como.

Estava 10 minutos atrasado em relação ao dia anterior, então resolvi pegar o ônibus ao invés de caminhar: acabei chegando os mesmos 10 minutos atrasados à escola, a única diferença é que meu corpo não tinha feito exercício. Está na hora de acordar ainda um pouquinho mais cedo, tlavez 7h30, de modo a vir caminhando de todo jeito.

As aulas de hoje foram boas, e creio que poderei acompanhar sem ficar estudando em casa. Hoje almocei só um sanduíche, já de olho no "melhor sorvete do mundo". Deixei minha companheira mexicana comendo sua salada e seu ravioli (parecia maravilhoso!) e fui tomar gelato no frio. Sempre uma delícia.

De volta à escola, uma checagem dos e-mails, incluindo algumas respostas. Aproveitei também para escrever este diário. A bateria do notebook está aguentando bem: 50% em uma hora e meia. Mas acho que vou voltar pra casa e descansar um pouco. No começo da noite, vou ver se falo com Alba de uma lan house e, dependendo da disposição, faço um passeio noturno, agora que estou de roupa "nova" e peitando o frio.

A domani! Até amanhã!

3 comentários:

  1. Menino, ontem naum tive tempo de vir aqui ver as novas, as borboletas, a chuva...
    ..Sempre achei que você combinava com viagem e não entendia porque ainda não tinha descoberto isso :o)
    Bjs,
    Tia Monca

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  2. Junoca, chamou-me a atencao as pessoas de diversas nacionalidades que voce tem encontrado e a sua capacidade de comunicacao. Para voce, como para Pepeta, o inferno eh a falta de comunicacao? Beijos.

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  3. Tia, não sei se já descobri. Tem dias que gosto bastante de estar viajando. Outros dias... quero voltar pra casa no primeiro voo. :)

    Ceíta, engraçado você comentar porque tenho pensado muito nessa frase da Pepeta, principalmente quando estou sem comunicação e a vida se torna um inferno. :) Pepeta sabe tudo e um pouco mais. :)

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