terça-feira, 14 de abril de 2009

Enquanto eu lia Questo Amore

Terrminei de ler Questo Amore. Quando faltavam umas 20 páginas, eu era capaz de jurar que não conseguiria terminar, que enlouqueceria antes. Não enlouqueci. Mas não dá pra continuar a viagem do mesmo jeito. No mínimo, terei que incluir Lecce, a cidade em que se passa o livro, no meu roteiro, e olha que eu não estava com a mínima intenção nem de ir para o sul nem de ver o mar Adriático. Mas vou acabar passando uns dias no salto da bota que é a Itália.

Penso que aborreço aqueles que viajam comigo. Penso que já estão cansados de ficar dentro de um quarto, lendo um livro enlouquecedor, mesmo que delicioso. Mas nem tudo foi livro nessa semana. Andei por aí, com o pensamento no livro, claro, mas com a câmera apontada para outras coisas. Ainda não tenho condições de falar muito sobre essas coisas, que continuam me parecendo pouco importantes, então colocarei apenas legendas e deixarei que as imagens falem por si e por mim.

Vista do estádio da Fiorentina pelo lado de fora. Não consegui comprar ingresso para o jogo. Só estavam vendendo para residentes em Firenze, parece que devido a algum problema de segurança relacionado aos torcedores do time adversário, o Cagliari. Pena não ter visto esse jogo. Foi 2 a 1 para a Fiorentina, e teve outros ótimos momentos, depois vi os melhores lances. Mas pena mesmo foi não ter assistido a um jogo de cálcio (futebol) aqui na Itália. O próximo, contra a Roma, não estarei mais aqui. E os outros lugares que visitarei não há times de primeira divisão.

A melhor vista panorâmica de Florença é a da Piazzale Michelangelo. Isso pelo menos até eu subir os mais de 400 degraus do Duomo, o que espero fazer semana que vem. Embora Bigi, minha anfitriã, diga que o lugar mais bonito de Florença, incluindo a vista, é o Forte de Belvedere, mas eu fui lá e está fechado para reformas. De todo modo, cá estou no topo de Florença, com vista para o Arno, para o Duomo e para uma chuva linda que estava acontecendo rio abaixo.

Essa vocês já viram no vídeo, mas segue uma versão em foto. A lua cheia que fez essa semana por aqui, e que vi lá da Piazzale Michelangelo. Interessante é que a lua estava, relativamente, do mesmo tamanho das lâmpadas do poste da praça. E esse azul aí não é efeito nem filtro da câmera, não. É a cor daquele início de noite mesmo.

Na sexta-feira, houve uma pequena despedida na escola. Três colegas ficaram conosco por apenas duas semanas. Eu e os demais ficaremos ainda duas semanas. Nosso time é internacional. Além da professoressa, italiana, tem gente do Brasil, da Alemanha, da Colômbia, dos Estados Unidos, da Inglaterra e da Dinamarca. E olhe que ainda faltaram, nesse dia e nessa foto, os colegas do Japão e da Austrália. Uma verdadeira sessão da ONU. Eu deixo à diversão de vocês adivinhar quem é de que país.


No sábado, fui ao Giardino de Boboli. Para quem já não agüentava mais tanta pedra, pelo menos deu pra ver uma combinação de pedra e planta.


Brincadeirinha. Era tanta planta que só se via verde. Essa é uma foto da alameda principal do jardim (mas pode chamar de parque natural ou de reserva ecológica, porque o troço é IMENSO).

No domingo, Páscoa. Me falaram de uma tradição tipicamente florentina, o Scoppio Del Carro, e eu fui conferir. Engraçado é que só agora fui olhar no dicionário o significado de “scoppio”: tudo a ver. Mas depois eu conto pra vocês, que é pra não estragar a surpresa.

O evento acontece na praça do Duomo, e eu pensei que não ia gostar, porque cheguei cedo e já tinha uma pequena multidão que não deixava ver muita coisa. Saí pra caminhar um pouco e, na volta, vi a porta lateral da Catedral do Duomo se abrindo. Entrei. Mal sabia eu que iria ver tudo de um dos melhores lugares possíveis: dentro da catedral, perto da porta. Ou seja, vendo o que acontecia dentro e um pouco do que acontecia fora. Fiz um monte de pequenos vídeos. Abaixo estão alguns que dão uma idéia da sequência do evento, o tal Scoppio Del Carro.

Nesse primeiro vídeo, feito logo depois que entrei na catedral, uma panorâmica da porta até o altar.



A festa começa com uma espécie de desfile, com pessoas vestidas à moda medieval, já que é um evento relativo às cruzadas (minha paciência com a História já acabou). No primeiro plano, os batuqueiros. Ao fundo se pode ver a “dança das bandeiras”, que são jogadas para o alto.



Ao meu lado estava um menino bem simpático e alegre, junto com seu pai. Era empolgante a alegria dele.



O carro, estranhíssimo, se aproxima da porta de entrada. Parece vindo do desenho animado A Corrida Maluca. O menino simpático enche o pai de perguntas: “Si, ma perché... ?”



Depois de uns quinze minutos de preparação, o grande momento. Uma mulher tinha me explicado, logo que cheguei, que o cabo prateado à nossa frente seria usado para a “colombina” (pombinha) voar do altar até o carro. A mulher também disse que “se a colombiana bruciasse...” era sinal de que o ano seria bom. Caso ela não “bruciasse”, seria indicação de um ano ruim. (Esse negócio de ano é porque, simplificando ao extremo, o ano antigamente começava na primavera, o que faz muito mais sentido do que começar no inverno.) Agora, alguém me explica o que quer dizer “bruciasse”? Na minha lembrança, o verbo “bruciare” queria dizer “queimar”, mas não me pareceu fazer muito sentido que a pombinha se queimasse. Vejam por vocês mesmos se a colombina bruciou (minha professoressa que não me leia isto) ou não...



Bom, me disseram que os fogos durariam 15 minutos. Uns dois minutos após o início, perguntei ao pai do menino se ainda aconteceria alguma coisa dentro da chiesa (quer dizer, igreja, juro que saiu naturalmente, pensei em italiano, viva! Viva!). O pai me olhou como se fosse minha mãe e disse: “La messa”. Esperei ele virar para o outro lado e saí de mansinho. Eu estava excitado demais para assistir a uma missa. Não consegui me aproximar do carro pela praça: muita, muita gente. Dei a volta no quarteirão e consegui filmar um pouquinho, e de longe, o final do foguetório. Gente, o carro...



... “explodiu”. É esse o significado de “scoppio”: explosão. Eu havia acabado de assistir à minha primeira Páscoa com direito a explosão de carro. Não, não me perguntem por que se explode um carro por aqui, pois eu já falei que minha paciência com a História acabou. O que posso dizer é que foi a primeira vez na vida em que não tive medo do estrondo dos fogos de artifício. Para mim foi um barulho encantadoramente ensurdecedor e inesquecível.
Acabei colocando mais que legendas. Vocês me perdoam? :-)

4 comentários:

  1. sem duvida que a Colombiana brusciou.
    ano bom pela frente

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  2. Muito interessante sua Pascoa. E obrigada pelas super legendas. Foram importantissimas! Beijo

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  3. Eu estive no Scoppio del Carro neste ano(2010)! Foi no domingo passado(4 de abril), a coisa mais linda do mundo! Muito engraçado, entrei no google para pesquisar um pouco sobre a história do ritual e encontrei o seu blog!

    Uma experiência incrível, eu diria! Maravilhoso!

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  4. Oi, Bel. Realmente: incrivelmente maravilhoso. :)

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