quinta-feira, 7 de maio de 2009

Ronco orquestrado e dor calculada

A Itália é um país belíssimo, a comida é excelente, mas... Sim, sempre tem um mas, e aqui o mas é a música popular atual, as canções. Sete semanas na Itália e a música que escuto na rua ou no rádio é normalmente de má qualidade: uma espécie de rock meloso.

A primeira exceção foi uma música divertidíssima do Alex Britti, "La Vasca", que penso que já coloquei aqui no blog. Se não: http://www.youtube.com/watch?v=5Wk5_5x8jSE

A outra exceção foi quando estive lavando roupa numa Wash&Dry, ainda em Firenzem mas as palavras que consegui entender da música, não as encontrei no Google depois. Essa semana, comprando uma água no bar em frente ao albergue, aqui em Torricella, ouvi uma música que me interessou. Dessa vez, perguntei ao atendente, que me disse o nome do cantante: Cesare Cremonini. Procurei no Youtube e achei. A música era a mesma da lavanderia, o que me deixou contente. É essa aqui:



É um rockzinho, mas não é meloso, e tem uma letra bem legal. Acho que dá pra entender mesmo quando não se fala o italiano:


Figlio Di Un Re

(Cesare Cremonini)

Che tu sia figlio di un re o capo di stato,
che tu sia buono come il pane, o brutto e maleducato,
che tu sia pazzo o normale, gatto oppure cane,
guardia o ladro, non importa se sei fatto o ubriaco.
Puoi chiamarti dottore, puoi chiamarti scienziato,
puoi chiamarti ufficiale, puoi chiamarti soldato,
puoi persino morire:
comunque l'amore è là dove sei pronto a soffrire,
lasciando ogni cosa al suo posto e partire
anche tu come me...

Che giri a destra o a sinistra, vero o per finta
è così: la tua impressione è solo un punto di vista,
e non importa quale donna sposi o come si chiama,
ciò che hai fatto in questa vita e in una vita passata.
Puoi chiamarti dottore, puoi chiamarti scienziato,
puoi cambiare il tuo cognome e usare un nome inventato,
puoi persino morire:
comunque l'amore è là dove sei pronto a soffrire,
lasciando ogni cosa al suo posto e partire
anche tu come me
L'amore soltanto l'amore può farti guarire
anche tu come me

[solo]

Comunque vada, che tu sia Dolce o Gabbana,
che tu sia figlio di una guerra santa, giusta o sbagliata,
non importa se dormi in una villa o per strada,
che tu sia uomo, donna, frocio, Lucio Dalla o Sinatra.
Puoi chiamarti dottore, puoi chiamarti scienziato,
puoi chiamarti ufficiale, puoi chiamarti soldato,
puoi persino morire:
l'amore soltanto l'amore può farti guarire,
lasciando ogni cosa al suo posto e partire.
L'amore è là dove sei pronto a morire
lasciando ogni cosa al suo posto e partire


A parte que me chamou mais a atenção foi: "comunque l'amore è là dove sei pronto a soffrire", "de qualquer modo, o amor está lá onde você está preparado para sofrer". E talvez tenha me chamado a atenção porque Assisi me fez voltar a amar depois de Firenze (qualquer dia desses, coloco material de Assisi aqui), e porque junto com o renascimento do amor veio uma dor abdominal que já durava três dias. Nesses três dias, a beleza do lago Trasimeno e de Assisi se combinavam com uma dor que vinha e voltava.

De ontem pra hoje, não consegui dormir. Além da dor, chegaram dois de meus companheiros de quarto. Eu deitei primeiro e não conseguia dormir devido à dor. Depois chegou um que penso que é italiano, tomou seu banho, deitou e... começou a roncar. Mas a roncar MESMO, feito uma mobilete. Pouco depois, chegou o simpático polonês, que eu tinha conhecido à tarde. Tomou banho e deitou. Eu estava esperando qual de nós dois teria coragem de acordar nosso companheiro de quarto primeiro para dizer-lhe para mudar de posição ou coisa assim. Nada! Tudo quieto, a não ser pelo ronco potente e pelo grito surdo e agudo de minha dor.

De repente -- o que me pareceu a princípio impossível -- o ronco começou a piorar e eu temi pela saúde do rapaz. Não era possível alguém roncar daquele jeito, sem pausa para respiração. E foi então que eu percebi que o outro colega de quarto também estava roncando, ALTO, e justamente no intervalo dos roncos do primeiro. Uma orquestração perfeita que, acreditem, diminuiu o problema. Porque o problema, a tortura, tanto do ronco quanto da dor é a pausa, é a espera angustiada pela repetição. O ronco agora não tinha pausa, era um contínuo. E eu cheguei a agradecer a Deus por aquele concerto de ronco porque me distraía um pouco de minha dor.

Bom, algum tempo após as 4 da manhã, consegui dormir. Acordei com o despertador do polonês, por volta das 8. O polonês não acordou. Desci os dois vãos de escada decidido a procurar um médico. A moça da recepção disse que eu poderia ir a um hospital em Perugia, há uma meia hora de trem daqui. O último trem da manhã partiria para Perugia em uma hora e, enquanto esperava, me lembrei que havia feito um seguro de viagem que incluía atendimento médico.

Localizei o e-mail com a imagem digitalizada das informações que Bina havia enviado do documento original que Kílvia havia mandado de Brasília pra Fortaleza. (Trabalho de equipe é isso aí!) Os documentos só chegaram a Fortaleza depois que parti pra Roma.

Bom, como tinha que esperar mesmo, liguei do Skype para o serviço do seguro no Brasil. Um rapaz de nome Daniel me atendeu, pediu os dados do hotel e disse que alguém me ligaria em trinta minutos. Eu, já escaldado desses atendimentos, lhe expliquei que era justamente o tempo que eu tinha até o próximo trem. Se eles não me indicassem um médico em Perugia em 30 minutos, eu só poderia ir até lá no meio da tarde: pra quem tem dor, minutos são horas, e horas são eternidades.

10 ou 15 minutos depois, me liga uma outra pessoa aqui para o albergue, e pergunta se quero falar em inglês, italiano ou espanhol. Na hora do aperreio, escolhi o inglês, que eu meio que havia abandonado após as aulas de italiano em Firenze. O rapaz me daria um endereço em Perugia, e eu teria tempo de pegar o trem. Tudo jóia, pensei. Aí o rapaz me pergunta se estou mesmo com dor abdominal e diz que, dentro de uma hora, um médico virá até o hotel. Com dor, a gente acredita até em Papai Noel, e simplesmente passei o telefone para a moça do albergue, que deu ao rapaz as indicações do endereço.

Uma hora, o rapaz havia dito? Eu estava preparado para esperar umas três horas pelo menos, afinal nós estamos numa cidadezinha no interior da Itália. Pois lhes digo que não foram nem 15 minutos. Chegou um médico, um vovô, de cabelos brancos, que subiu comigo até o quarto, me examinou e diagnosticou uma pequena crise renal. Incrível o que umas pancadinhas na barriga e nas costas podem revelar. Depois descemos, ele foi até o carro, pegou alguns comprimidos e disse: "Um por dia, para a dor. E beba MUITA água." Depois de receitar, mais tranquilos, tanto ele quanto eu, recitou algumas palavras em latim e brincou dizendo que meu sobrenome PEDROSA era o mesmo de um famoso motociclista italiano.

Entre o meu telefonema para o seguro e a saída do Dr. Moretti, não levou mais do que uma hora. Por um seguro que, até agora, em dois meses de aquisição, me custou apenas 7 reais, 3,50 por mês. 3,50 é quanto pago, mais ou menos, por um cappuccino.

Depois de beber meio litro d'água (o remédio só devo tomá-lo após uma refeição), liguei para o atendimento do ItauCard, agradecendo. Estou impressionado com a facilidade, a rapidez e a qualidade do atendimento. E, num mundo em que a gente insiste -- algumas vezes exageradamente - em reclamar tanto, acho que faz bem pros meus rins e até pra apnéia noturna de meus colegas de quarto, agradecer, agradecer, agradecer...

Acho que amanhã estarei novinho em folha para retornar a Assisi.

2 comentários:

  1. Bom saber que seguro saúde por aí é que nem seguro de carro com o Chico do Bita, funciona :o)
    Bjs e melhoras,
    Tia Monca

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  2. Boa comparação, Tia. :) A saúde já está ok. Beijo,

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